Certa vez li uma historinha mais ou menos assim:
Havia uma senhorinha que sempre pegava certo ônibus para seguir aos seus afazeres diários.
O ônibus sempre estava lotado e os passageiros mal humorados. Esta senhora, porém, entrava sorridente e ao passar pelo cobrador o olhava expressivamente e dizia: “Bom dia!”
O cobrador, com o tempo, passou de espantado a curioso. “O que há nesta senhora para que seja sempre tão alegre e educada?”
Certo dia, cedeu à curiosidade, e perguntou a ela a razão de seu comportamento. Neste dia a senhora testemunhou a ele sobre o Cristo.
A história não conta se o cobrador se converteu ou não. Mas conta que o perfume do Senhor estava nesta senhora.
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Há uma máxima atribuída a Francisco de Assis sobre a qual não sei quem começou com essa de “pregue” e, agora, de tempos em tempos, os reformados rosnam, arrepiam os pelos das costas e arreganham os dentes para ela.
Estudei, criança, num colégio católico em que cantávamos a “Oração de São Francisco” - belíssima, diga-se - e foi onde ouvi primeira vez: “Testemunhe sempre. Se necessário com palavras.”
Esta corruptela com o “pregue” é, de fato, absurda, mas a máxima, que é sobre o testemunho, não tem patavina com a ininteligibilidade nem é antiproposicional. Tem a ver com a coerência entre o discurso e a prática, e tem a ver com o fato óbvio que a prática fala mais alto do que afirmações soltas.
Ademais, não diz que palavras não são necessárias. Diz que o testemunho mudo é um chamariz para a pregação.
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É uma obviedade que a “historinha da senhorinha” poderia servir a uma religião outra qualquer, inclusive ao ateísmo. Assim como é obviedade que o Cristianismo não pode ser testemunhado plenamente de forma não proposicional.
Mas que importa ao cristão estas obviedades no que se refere à máxima franciscana?
Importa é ser obediente e testemunhar. Dar chiliques por causa do “pregue” é que não é testemunhar de forma alguma. Antes, é só a corrupção brigando com a corruptela. Não seria melhor um olhar redentivo e, note bem, palavras compassivas?
Mais de “bom dia, cobrador”, menos rosnados, por favor.
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Já que citei a “Oração de São Francisco”, os reformados que arrepiem seus pelos, tomo-a por oração minha e volto-me ao Eterno:
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“Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se nasce para a vida eterna!”