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terça-feira, 29 de junho de 2021

27/06/2021

Certa vez li uma historinha mais ou menos assim:

Havia uma senhorinha que sempre pegava certo ônibus para seguir aos seus afazeres diários.

O ônibus sempre estava lotado e os passageiros mal humorados. Esta senhora, porém, entrava sorridente e ao passar pelo cobrador o olhava expressivamente e dizia: “Bom dia!”

O cobrador, com o tempo, passou de espantado a curioso. “O que há nesta senhora para que seja sempre tão alegre e educada?”

Certo dia, cedeu à curiosidade, e perguntou a ela a razão de seu comportamento. Neste dia a senhora testemunhou a ele sobre o Cristo. 

A história não conta se o cobrador se converteu ou não. Mas conta que o perfume do Senhor estava nesta senhora.

***

Há uma máxima atribuída a Francisco de Assis sobre a qual não sei quem começou com essa de “pregue” e, agora, de tempos em tempos, os reformados rosnam, arrepiam os pelos das costas e arreganham os dentes para ela.

Estudei, criança, num colégio católico em que cantávamos a “Oração de São Francisco” - belíssima, diga-se - e foi onde ouvi primeira vez: “Testemunhe sempre. Se necessário com palavras.”

Esta corruptela com o “pregue” é, de fato, absurda, mas a máxima, que é sobre o testemunho, não tem patavina com a ininteligibilidade nem é antiproposicional. Tem a ver com a coerência entre o discurso e a prática, e tem a ver com o fato óbvio que a prática fala mais alto do que afirmações soltas.

Ademais, não diz que palavras não são necessárias. Diz que o testemunho mudo é um chamariz para a pregação.

***

É uma obviedade que a historinha da senhorinha poderia servir a uma religião outra qualquer, inclusive ao ateísmo. Assim como é obviedade que o Cristianismo não pode ser testemunhado plenamente de forma não proposicional.

Mas que importa ao cristão estas obviedades no que se refere à máxima franciscana?

Importa é ser obediente e testemunhar. Dar chiliques por causa do “pregue” é que não é testemunhar de forma alguma. Antes, é só a corrupção brigando com a corruptela. Não seria melhor um olhar redentivo e, note bem, palavras compassivas?

Mais de “bom dia, cobrador”, menos rosnados, por favor.

***

Já que citei a “Oração de São Francisco”, os reformados que arrepiem seus pelos, tomo-a por oração minha e volto-me ao Eterno:

***

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.

Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz.

Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se nasce para a vida eterna!







quarta-feira, 14 de abril de 2021

14/04/2021

É claro que sofri injustiças e abusos na igreja. Talvez, para minha vergonha, eu também tenha sido causador de injustiças e abusos (espero que não). Sofro as consequências do último abuso até hoje e obviamente me lamento por isso. 

Entretanto, não são estas coisas que me definem. Muito menos são estas coisas que definem a Igreja. 

Não é a amargura do velho homem em mim que me anima, mas a esperança da consumação de um homem aperfeiçoado. Aquilo que foi passou e olho em frente. Ao alvo!

Do mesmo modo, não são os erros de uma igreja feita de pecadores o que se sobressai, embora isso, os erros que comentemos, seja mesmo uma confirmação do próprio Cristianismo neste tempo. O que se sobressai é o arrependimento e o perdão capazes de pisar o ressentimento qual serpente. O alvo do cristão é o mesmo alvo da Igreja.

Ainda sofremos nossas tristezas, mas já experimentamos a glória!

Aquele, porém, que só faz semear seu ressentimento no solo fértil de seu coração corrompido haverá de, neste tempo e no porvir, colher a amargura desta morte.

***

Quando eu era adolescente havia aquela "colina existencial". Eu era tomado pelo enlevo a que a criação me levava e a confundia com o Criador. Tive eu minha própria jornada agostiniana até não haver mais tal confusão.

Ouvi certo rumor que dizia da criação pelo mesmo enlevo: "acredito que isso aqui também é igreja".

Tenho dito que o flertar com a heresia é saudável. O zelo bem pode se concentrar no perigo deste rumor. E há perigos. A confusão espreita. Porém eu realmente tenho o flerte por extremamente salutar.

Pois há sentido em que a criação é mesmo uma igreja, um templo. A "colina existencial" é o altar deste templo. E neste altar presto culto solene.

***

Não abandono que "culto solene" seja aquele dominical, com toda a substância que a tradição - com todos os gigantes sobre o ombro dos quais enxergamos mais longe - não abandono seu lugar, por assim dizer, privilegiado.

Entretanto entendo que o "por assim dizer" é mais relevante que o "privilegiado". Também há perigo neste privilegiar.

Olhar toda a vida, em cada um de seus aspectos e em cada um de seus momentos, é pela dádiva prestar culto. E, ao olhar, por vezes somos arrebatados ao solene.

***

É claro que estou sendo por demais frouxo no uso de meus termos. Ah, o rigor não raro me atrapalha. Meus termos são deliberadamente confusos pois a verdade é que defender uma ou outra coisa por vezes nos lança a um pêndulo inconveniente.

Nesta breve confissão, falo de dois tipos de confusão. A primeira é fenecer. Mas a que se segue é abundância de vida!


Ah, meu Senhor, que eu esteja pronto a ver. Dê-me os olhos. Louve-O eu em todo tempo. Que todo meu gozo seja serviço ao meu Deus!

quarta-feira, 7 de abril de 2021

07/04/2021

Tenho andado sem ânimo para escrever, mesmo estas irrelevantes confissões. Muito por conta dos assuntos dos crentes. Aliás, eu me decidi a me confessar aqui principal e justamente para evitar o desgaste das mídias sociais. Como sou frouxo!

Entretanto, acho que teria duas coisas a dizer neste solilóquio.

Uma delas é que, nestas questões em que minha tradição chama todo o peso do passado pelo temor que as demandas do tempo nos impõem, eu tendo a me ver apiedado em catolicismo. Decerto eu seria mesmo um péssimo teólogo. Acho muito difícil me aferrar a posições muito estáveis.

Mas acho que devo explicar brevemente esta compaixão católica. A verdade é que, no íntimo, eu me inclino mais à saúde ortodoxa. Porém, publicamente, defendo a unidade com os heterodoxos, ainda que alguma doença espreite. Vejo-me mesmo a tomar partido deles e me chamar por seu nome. Ai de mim!

Porque não vejo nada como assim tão óbvio e claro. E, se gostaria da segurança dos grandes, também duvido deles. A possibilidade de erro é tão grande aos outros quanto a mim mesmo. Pelo que é igualmente provável que outros acertem tanto quanto eu. Uma compaixão - um tanto egoísta, obviamente - se apodera de mim e procuro unir ao invés de separar - o que é, também obviamente, uma busca frustrada.

Não é uma questão de ceticismo. Nem de falta de convicções. Muito menos, arre!, de pragmatismo. É mais uma terrível consciência da falibilidade da razão humana, em geral, e da minha, em particular. É uma tentativa decerto frustrada de humildade epistêmica. O que no fim, inexoravelmente, termina em certa traição das minhas convicções em obediência à tradição em que Ele me pôs.

Não digo que não dói. Porém, apesar de tudo, acabo me divertindo.

E é bom que eu me divirta com isso. Porque considero estas coisas - ao menos a maioria delas - como menores, como secundárias, como exercício voltado a coisas mais relevantes.

Daí que outra coisa que teria a dizer é que ontem recebi a notícia do falecimento de um garotinho de menos de dois anos. (Chega a me dar ânsias imaginar alguém a perguntar se foi de Covid.) Faleceu por afogamento. Sob os cuidados da madrinha, enquanto a mãe estava a trabalhar.

Qual o estado emocional - e espiritual - destas duas mulheres? Como passar por uma situação dessas? O que dizer para quem sofre assim? E como dizer?

Não, eu não conhecia os envolvidos. Mas que diferença faz? Ontem, enquanto eles se viam nesta situação, eu brincava de me esconder e assustar o meu caçula, de pouco mais de dois anos.

Ora, estas são as coisas mais relevantes. O pranto e a alegria têm peso eterno. E com isto eu não estou a sugerir que a sã doutrina não pese. O que estou a dizer é que nossas discussões públicas sobre os assuntos sérios deste mundo devem ser levadas menos a sério que a vida que segue mesmo à parte, mesmo desconhecendo esta seriedade.

Não é na afirmação de nossas convicções que demonstraremos a beleza da nossa fé, mas em sorrir e chorar com os que sorriem e choram.

Ah, eu sei o quanto isso soa mal aos convictos. Eu sou um deles. Ai de mim!

***

Meu Senhor, livra-me de ser este orgulhoso que sou. Leva-me aos meus e aos próximos, não para pensar, não para mostrar, mas para viver uma vida digna da abundância da Tua dádiva.

quinta-feira, 25 de março de 2021

25/03/2021

Esta é já a quarta ou quinta noite seguida que sonho com o mar, que sonho que estou prestes ou já a surfar. E o mar e o surfe são em versões malucas do Urubú, a praia, ou melhor, a bancada de areia onde me vi um adolescente surfista.

Passo então estes dias um tanto saudoso. Mas menos da adolescência e daquele mar do que... como direi? Tenho saudade do vento!

Ah, o vento!

***

Naquele período da minha adolescência, havia um lugar que eu visitava com frequência.

No fim da Rua Robusta, uma rua sem saída, como quase todas do bairro, no lado do "sem saída", havia como que um pequeno bosque. Bem pequeno, como um jardim de um quintal de bom tamanho. E, depois deste bosque, um pequeno descampado - onde certa vez fizemos uma pista de bicicross - e uma mata em uma ribanceira que descia até o nível do mar. E depois, claro, o mar.

Esse "sem saída" se refere aos veículos de nossos pais. Mas nossas bicicletas e nossos pés faziam de uma das laterais deste "bosque" um atalho para o Clube da Orla. Saindo da Rua Augusta havia um desnível, uma pequena subida que levava para a o "sem saída" da Rua Resinífera.

No topo desta subida havia uma árvore que nas minha tardes adolescentes fazia sombra para um garoto que se sentava ali para olhar para o horizonte, saboreando os dois tons de azul divididos por aquela linha e todo o verde ao redor. Esta era a minha "colina existencial" que mencionei mais tarde.

Era para ali onde eu ia quando sentia aquela espécie de frio na barriga, aquela necessidade indelével e inexplicável do solilóquio que jamais me abandonou por toda a minha vida. Era para para ali que eu me dirigia quando sentia saudade do vento.

Ah, o vento!

***

Surfar é um esporte solitário. É claro que gostávamos de conversar sobre nossas manobras enquanto aguardávamos a próxima série. Mas surfar é você, sua prancha e o mar. Há um quê do mesmo solilóquio da "colina existencial" em uma onda.

Ainda naquela época, porém muito mais tempos depois, brinquedos caros de crianças crescidas, a colina tinha motor. Experimento o mesmo solilóquio ao rodar de moto.

Entretanto, o adolescente não entendia muito bem o frio na barriga do solilóquio. O adulto percebe. A saudade do vento é saudade da eternidade e o solilóquio - a experiência estética digna dEle - é oração. O frio na barriga aquece o coração e corrige sua inclinação enquanto busco o vento.

Ah, o vento!

***

Preciso repetir meus Gemidos inexprimíveis:


Ah, o vento!

***

Santo Espírito que em mim soprou a salvação, venta constantemente sobre mim e me ensina a, contemplando o Cristo, ser mais e mais parecido com o Ele, para a glória de Deus Pai. 

quarta-feira, 24 de março de 2021

24/03/2021

Nos extras do DVD de O Conde de Monte Cristo (2002) tem uns comentários do diretor. Não me recordo dos termos exatos, mas em dado momento ele se pergunta: “Como Dumas não pensou que o filho de Mercedes era de Edmond?”

E ainda fica numas de “É tão óbvio e é genial!”

Eu gostei do filme e a ideia serve bem à adaptação. Mas não tem nada com o livro.

Assim como as adaptações - inclusive livretos - focam apenas em vingança, esquecendo completamente que a retribuição é bem a quem faz bem e mal a quem faz mal, o diretor esquece completamente de Haydée.

Mercedes é o antigo Israel que não aguardou o Cristo. Haydée é o Israel verdadeiro, aquele que foi comprado e se entregou ao Messias. A Igreja, a Noiva!

***

Eu tenho me incomodado sobremaneira com a maledicência contra a Igreja nos últimos tempos. Não que seja novidade, mas que tem sido uma das formas recentes de sinalização de virtude e muitos que dizem ser chamados pelo Nome participam desta murmuração.

Note bem, há um salto... não, não mero salto... há um abismo entre a confissão piedosa quanto aos desvios e erros que pecadores salvos unicamente pela Graça cometem - de forma individual e congregacional - e a generalização falsa, difamatória, caluniosa que temos testemunhado.

As pessoas agem exatamente como as adaptações. Exatamente como este diretor. Por um lado, exageram algum dos atributos do Cristo em detrimento do Cristo qual Ele é e a nós Se revela. Por outro lado, ignoram e desprezam a Igreja, maldizem a Noiva.

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Tivemos na semana passada nossa reunião da UPH (União Presbiteriana de Homens). Conversávamos sobre duas ações locais: a doação mensal de cestas básicas e a realização ocasional, especialmente no inverno, do "Varal Solidário" (doação de roupas).

Que direito tem alguém que não tem contato algum com a igreja na qual congrego de afirmar que somos, como igreja, acomodados, que não damos atenção ao pobre, que "a igreja não faz" e, se faz, "faz mal"?

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Isto vale para os diversos desafios que enfrentamos. Em nosso tempo ou em qualquer tempo. Não apenas a miséria.

A Igreja frequentemente falha não só quanto aos desafios dos tempos. Falha mesmo em ser fiel muitas vezes. Entretanto, jamais podemos ignorar que ela tem sido um farol a este mundo, quer ele o reconheça ou não, e que, muito mais importante que isso, sua virtude não está nela mesma, mas nAquele que a purificou.

A Igreja é, por assim dizer, tanto um projeto humano quanto divino e pertence tanto ao não ainda quanto ao já. O projeto humano e o não ainda são cheios de erros e acertos. Mas o projeto divino e o já - esta primícia do porvir no não ainda - é pureza e glória!

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Honestamente? Eu não tenho nada contra cruzes pregadas na praia. Mas tenho toda reserva do mundo contra este tipo de coisa ser a medida da espiritualidade alheia.

Acabo de falar de duas ações sociais da igreja, mas que importa à mão esquerda ter a ciência desta obra da mão direita?

Ora, se a medida de nossa espiritualidade é aquilo que mostramos, temos toda nossa recompensa no elogio efêmero e fugaz que agora recebemos.

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Aquele que maldiz frequenta uma igreja? E esta igreja que frequenta não faz ou faz mal? Se não, por que acusa injustamente a igreja? Se sim, o que faz este para corrigir o que precisa ser corrigido?

A maledicência, ao fim e ao cabo, é uma fuga da própria responsabilidade e uma idolatria de abstrações.

***

Oh, Senhor, livra-nos do cinismo que nos torna cegos para nossas falhas como Tua Igreja. Mas também nos proteja da idolatria que nos faz levianos em nosso testemunho.

Seja a Tua noiva santa, pura, sem mácula e se una ela a Ti na Tua glória.


terça-feira, 23 de março de 2021

23/03/2021

Num destes dias de isolamento, sem conseguir tempo de qualidade para a leitura, vi toda a terceira temporada de Cobra Kai.

Gostei bastante. Já havia algumas referências saudosistas nas temporadas anteriores, mas esta foi um banquete.

De tudo, acho que o que mais gostei foi Ali ter aparecido no fim e ser ela - que foi a razão inicial dos desentendimentos - o instrumento de união entre Larusso e Lawrence. E ela fez isso dizendo algo como: "Há o que você, Daniel, diz. Há o que você, Johnny, diz. E entre vocês dois há a verdade."

O melhor disso é que ela não se faz a verdade entre eles. Sequer uma mediadora da verdade. No máximo, é uma mediadora entre eles, dizendo algo como: "Vocês são mais parecidos do que imaginam ou estão dispostos a admitir."

Enquanto isso, os sábios, de lado a lado, opondo-se entre si, determinam exatamente qual seja a verdade, especialmente a dos fatos; especialmente a dos fatos políticos. A "verdade dos fatos"! Que coisa tão fugaz, inacessível, irreal... Os sábios não têm a menor ideia! 

Penso que uma boa porção das tensões entre os homens seria facilmente resolvida se déssemos ouvidos a Ali, a velha carola!

***

Qual é a verdade? Quais são os fatos? E como escolher "o lado certo"?

Agora se descobriu que o posicionamento de alguém é uma declaração moral, e que há posições moralmente mais ou menos equilibradas. 

Eu fico com vontade rir. De gargalhar. Precisamos de sábios para nos dizer isso, para nos explicar o óbvio. Sem os sábios nada poderemos dizer. Pelo menos não apropriadamente, pelo menos não aos tempos.

Aos tempos!

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É coisa por demais perigosa escolher "o lado certo". Porque, mais que uma batalha moral, é uma batalha por nossas almas.

E não há uma só pessoa que saiba qual "o lado certo" que não o queria impor - da boca para fora via diálogo, das entranhas goela abaixo - esta bondade a todos os homens. Afinal, os homens não sabem o que é bom para eles.

Bem, não sabem mesmo. O problema é que o que sabe "o lado certo" também não sabe coisa nenhuma!

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De modo meio grosseiro podemos verificar uma máxima política; a de que conservadores tendem a esquecer a compaixão pela justiça enquanto progressistas abandonam a justiça pela compaixão. Seria menos grosseiro, mesmo que ainda uma generalização, atestar que, além disso, conservadores não entendem de justiça e progressistas ignoram a compaixão.

O que é mesmo "o lado certo"?

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E o cristão com isso? - sou obrigado e me perguntar.

É fácil dizer, como até os sábios dizem, que há no Cristianismo tanto a raiz de algum conservadorismo como a semente do progressismo. De fato, não somos chamados a um compromisso político conforme estas ou outras categorias, mas à conformidade com o Cristo.

Entretanto, eu suponho que tempo e lugar indiquem que uma tendência é mais apropriada. Onde e quando a justiça é feita injusta, compaixão. Onde e quando o amor é uma canção dos Beatles, justiça.

No lugar e no tempo em que vivo a própria justiça é uma canção de amor Beatles-style. Não há amor, nem compaixão e em nome destes termos esvaziados há uma fábrica de injustiça.

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Ah, meu Senhor, como temos sido orgulhosos e patéticos em nossa tirania conforme nossas afeições. Sofremos as consequências desta estupidez e não aprendemos, continuamos estúpidos impondo estupidez. Tua mão tem pesado sobre nós e nós insistimos que sabemos "o lado certo".

Mas o Senhor é misericordioso. Livra-nos de nós mesmos, meu Deus!

segunda-feira, 22 de março de 2021

22/03/2021 - Dando o tom

Sempre fui este não-escritor que escreve.

Até gostava de ser escritor, mas não o sou. Não tenho o talento nem a erudição para tal. Por outra, escrevo porque preciso. Simplesmente. Por catarse. Para expor a minha alma, ainda que apenas para mim mesmo. Ou, quem sabe, para Deus. Como uma oração que não consigo fazer com a voz.

De vez em quando acordo, como hoje, com saudade dos amigos dos doze anos, incluindo os tardios - sim, porque, se não é a mesma coisa, porque não somos os mesmos, ainda é possível encontrar bons amigos neste mundo. 

De vez em quando acordo assim, com vontade de conversar e expor a alma. Acho que algo só vale a pena neste mundo se expõe sua alma. 

Não expor virtudes, isso é piegas. Nem procurar relevância, esta inutilidade. Nem mesmo expor por expor, o que é temerário. Antes, expor a alma é ser brutalmente honesto consigo mesmo revelando a beleza do já e os horrores do não ainda.

Talvez desejasse ser como um Rev. John Ames. Ou saber escrever minhas Confissões, ainda que deliberadamente menores - relevância, esta inutilidade!

Tenho saudade da época de blogs e de mídias menos universais, como o Buzz. A internet sempre foi terra de ninguém, mas as interações então eram mais pessoais. Mesmo mais íntimas. De certo modo continuo fazendo isso, porém com as reticências necessárias.

Entretanto, talvez eu deva, por esta sempre presente necessidade de catarse, fazer justamente isso, sem porém, sem reticências. Um “diário de um ressentido”. Quiçá eu o faça. Num bom e velho blog, coisa que ninguém mais lê. Seria apropriado ao ressentimento do solilóquio!

27/06/2021

Certa vez li uma historinha mais ou menos assim: Havia uma senhorinha que sempre pegava certo ônibus para seguir aos seus afazeres diários. ...